viernes, 27 de enero de 2012

Camino largo

Foto AFP

Los juicios a Garzón, la absolución de Camps&Cía, aún tanto todavía.

Reuter

lunes, 23 de enero de 2012

Tarde de domingo y palomitas (en casa).


Sí, la sala es el sitio ideal, sin discusión. Sin embargo, cada vez más películas en casa, la de ayer fue Sin dejar huella. Una de la directora mexicana María Novaro del año 2000. Ana (Aitana Sánchez-Gijón), traficante internacional de arte prehispánico, huye de un agente judicial que le sigue el rastro como un perro perdiguero. Aurelia (Tiaré Scanda), madre soltera y maquilladora en Ciudad Juárez, huye de un novio traficante al que le ha robado dinero. Las dos coinciden en un bar de carretera, las dos se necesitan y, juntas, cruzan México con destino a Cancún porque el suyo no les gusta. En el camino, complicidad, aventura, reproches, ambigüedad, buenas intenciones y muchas estampas turísticas. En fin, un road-movie que se deja ver, que entretiene. Qué más para una tarde fría de domingo.

sábado, 21 de enero de 2012

El muchacho del yo imaginario


Anoche, ya tarde, un correo de Mena. Encontraron el cuerpo de Rui Costa na foz do Douro. Se perdió con el año nuevo y desde entonces.
Estuvimos juntos en Casablanca, lo llevó precisamente Mena, una sobremesa en el jardín de João, con Sara Monteiro y los otros, y luego de allí, una de aquellas tardes memorables en el Camões.

De trato amable, quizá algo huidizo también, ejerció de abogado y de profesor, pero era, sobre todo, poeta, prémio de Daniel Faria, con A Nuvem Prateada das Pessoas Graves, lo editó Quasi Edições en 2005. También publicó luego una novela A Resistência dos Materiais y codirigió la Primeira Antologia de Microficção Portuguesa.

Ahora vivía en Brasil y estaba liado con la Tesis Doctoral.
Cada cual, es un mundo desordenado y a veces...

Para Manga ancha nos dejó este texto:

SETE EUS REAIS E UM EU IMAGINÁRIO NOS OLHOS DE ESPANHA

Rui Costa
1.

A Espanha é uma invenção de Portugal – disse o Daniel, que só foi a Espanha uma vez. Cortou as repas, acelerou o Carrera De Tomaso por entre as buganvílias junto ao mar e, quando lá chegou, estava tanto frio que voltou para trás. As buganvílias já não desfocavam o caminho, porque o Daniel escreve buganvílias sempre que não sabe o nome das coisas que lá estão. A verdade é que no regresso não viu nada. A verdade é que os espanhóis falam muito alto, parece que a voz lhes fura o coração e depois os touros estreitam mais os olhos e avançam com os motores desprevenidos como se lhes corresse sempre bem a vida.

2.

Eu – eu sou o Rui – conheci uma mulher assim. Uma mulher, digamos, como um país enfurecido no seu sítio. Um país metafórico, que é a posição de todas as coisas quando as olhamos de longe, com demasiada fome, quando o calor sobrevoa o rosmaninho. Foi aí que a minha escrita mudou. A metáfora é o azimute de um escritor que não come tudo o que há para comer. Ela disse – abre a porta, Rui, e continua, mas não durante todo o tempo, a olhar assim para os meus joelhos.

3.

O Filipe é viciado na última década do século vinte, e também em Zoila, que é anterior e linda, dentro do género, qual género, do género feminino, qual é que havia de ser. Zoila era psicóloga num consultório de Vigo, um dia pôs-se negra e gritou com as casas todas da rua até ser escorraçada da competência assídua e pontual, foi melhor assim. Não sei se foi, a Queensway de Londres tem quartos muito sujos e Filipe não cabia na cama, mas Zoila roubava gravatas e bonecos do armazém onde todos os dias empacotava objectos dentro de 1500 caixas, e mudaram para um quarto sem cama onde ouviam Los Illegales com as pernas estendidas, lado a lado, até acabarem de acordar o cheiro que o sono enche de vontade de ficar.



4.

Não estou a contar por ordem cronológica, deixo o tempo intrometer-se na minha memória contaminado de florestas na cabeça. Dizem que eu tenho a cabeça demasiado grande, o meu amigo Angel costumava dizer, um dia emprestaram-me um capacete para andar de mota e tive que levá-lo no braço. Não é verdade, a verdade é que tenho os ombros um pouco estreitos e isso provoca uma ilusão de óptica, pede outra vodka, os advogados são cães doentes pendurados no tecto, pede duas vodkas, sabes Angel eu quero mudar de profissão mas sou teu amigo e quero que tu tenhas uma vida de rei lá em Madrid, depois vou visitar-te a Madrid e tu estás gordo e falas português como um rei e eu digo assim, grande senhor rei, meu cabrão amigo, desta vez pago eu.

5.

Fui de Salamanca a San Sebastian à boleia de camião. O camionista era o Senhor Santos, mais tarde voltei a viajar com ele até à República Checa. Mas dessa vez saí na auto-estrada, num ponto qualquer a jeito para quem se destina à cidade, dois dias depois estava a viver na Plaza de la Constitución. Devo dizer que me interessei muito pelos bascos que pude conhecer, extremos no gostar e no bater (não sei quanto lhes custa). Depois morei com o Gorka e o Pedro, que tinha uma namorada que era a Miss Elegância de Espanha, muito simpática, falava connosco sempre bem-disposta na sala, o Pedro de plantão desejando que ela se calasse. Finalmente recolhiam ao quarto e eu surpreendia-me com o ócio calmo do Gorka, há anos que era suposto frequentar um curso de economia onde nunca punha os pés, ouvia música e passeava mas eu na altura ainda tinha dois ou três polícias que não me deixavam achar aquilo natural, enfim, deve ter sido há muito tempo porque agora sou mais Gorka que o próprio. Está bem, pronto, não sou.

6.

O sexto parágrafo é o tédio, chega em forma de brisa do lado dos Açores, que não tem culpa nenhuma, e gruda nas orelhas com a gravidade posta de forma consonante com o passado ressequido e bruto, um fado por cada nó na garganta, ficámos muito fartos até que o adolescente pergunta Será que é proibido mudarmos de pele? No norte de Portugal chamam-lhe iodo, ninguém sabe bem o que é, Nossa Senhora do Iodo por favor dá-me um peixe e algum sal, a Espanha pousou a sua cruz e dizem que os bailaricos são coisas de pasmar, mas os espanhóis não pasmam, soltam o corpo ao ar e os pés batem na terra e os queixos levantam, que é assim que se vive, sou temente a deus (já minto!) e mais temente ainda à tristeza, à saudade, ao medo, os três nomes do tédio, mas agora estamos em Espanha e quero um fim de tarde bárbaro e feliz.

7.

O sete é o número da perfeição, não creias nisso. Os meus avós zangaram-se com Espanha quando o esquentador da água falhou, Made in Spain, não tomei banho durante dois dias, senti-me sujo e entreguei as asas ao cão mais manhoso e porco da rua, depois o cão levou-me pela trela aos becos mais esconsos da aldeia, pensava no cheiro do bagaço, dos dois que se comiam entre a sombra do milho, vagamos o perímetro da noite e subimos ao celeiro onde as seringas ardiam, descemos pla manhã com os dentes rasgados quando o estômago doía. Fica comigo mesmo que eu te diga como foi um cão o meu primeiro amor.

Traducción

SIETE YOES REALES Y UN YO IMAGINARIO EN LOS OJOS DE ESPAÑA
Rui Costa

1.

España es una invención de Portugal – dijo Daniel, que sólo fue a España  una vez. Se cortó las greñas, aceleró el Carrera De Tomaso  por entre las buganvillas junto al mar y, cuando llegó allí, hacía tanto frío que se dio la vuelta. Las buganvillas ya no desenfocaban el camino, porque Daniel escribe buganvillas siempre que no sabe el nombre de las cosas que allá están. La verdad es que a la vuelta no vio nada. La verdad es que los españoles hablan muy alto, parece que la voz les perfora el corazón y después los toros empequeñecen más los ojos y avanzan con los motores desprevenidos como si siempre les fuese bien la vida.

2.

Yo – yo soy Rui – conocí a una mujer así. Una mujer, digamos, como un país enfurecido en su sitio. Un país metafórico, que es la posición de todas las cosas cuando las miramos de lejos, con demasiada hambre, cuando el calor sobrevuela el romero. Fue ahí cuando mi escritura cambió. La metáfora es el azimut de un escritor que no come todo lo que hay para comer. Ella dijo – abre la puerta, Rui, y sigue, pero no siempre, mirando así para mis rodillas.

3.

Filipe está enganchado a la última década del siglo veinte, y también a Zoila, que es anterior y linda, dentro del género, qué género, del género femenino, cuál iba a ser. Zoila era psicóloga en un consultorio de Vigo, un día se puso negra y gritó con todas las casas de la calle hasta ser echada por la competencia asidua y puntual, fue mejor así. No sé si lo fue, la Queensway de Londres tiene habitaciones muy sucias y Filipe no cabía en la cama, pero Zoila robaba corbatas y muñecos del almacén donde todos los días empaquetaba objetos dentro de 1500 cajas, y se cambiaron a una habitación sin cama donde oían a Los Ilegales con las piernas estiradas, de lado a lado, hasta acabar de despertar el olor que el sueño llena de ganas de quedarse.



4.

No estoy contando por orden cronológico, dejo al tiempo entrometerse en  mi memoria contaminado de marañas en la cabeza. Dicen que yo tengo la cabeza demasiado grande, mi amigo Ángel solía decirlo, un día me prestaron un casco para ir en moto y tuve que llevarlo en el brazo. No es verdad, la verdad es que tengo los hombros un poco estrechos y eso provoca una ilusión óptica, pide otro vodka, los abogados son perros enfermos colgados del techo, pide dos vodkas, sabes Ángel yo quiero cambiar de profesión pero soy tu amigo y quiero que tú tengas una vida de rey allá en Madrid, después voy a visitarte a Madrid y tú estás gordo y hablas portugués como un rey y yo digo así, señor gran rey, mi amigo cabrón, esta vez pago yo.


5.

Fui de Salamanca a San Sebastián en autostop en un camión. El camionero era el Señor Santos, más tarde volví a viajar con él hasta la República Checa. Pero en esa ocasión salí en la autovía, en un punto cualquiera apropiado para quien se dirige a la ciudad, dos días después estaba viviendo en la Plaza de la Constitución. Debo decir que me interesé mucho por los vascos que pude conocer, extremados en el querer y en el luchar (no sé cuánto les cuesta). Después viví con Gorka y Pedro, que tenía una novia que era Miss Elegancia de España, muy simpática, hablaba con nosotros siempre de buen humor en la sala de estar, mientras Pedro esperaba deseando que ella se callase. Finalmente se retiraban a la habitación y yo me sorprendía con el ocio tranquilo de Gorka, hace años que se suponía que frecuentaba una carrera de economía donde nunca ponía los pies, oía música y paseaba pero yo por entonces aún tenía dos o tres polícías que no me dejaban que encontrase aquello natural, en fin, debe haber sido hace mucho tiempo porque ahora soy más Gorka que yo mismo. Está bien, venga, no lo soy.

6.

El sexto párrafo es el tedio, llega en forma de brisa del lado de las Azores, que no tiene culpa ninguna, y se pega a las orejas con la gravedad manifestada en consonancia con el pasado reseco y bruto, un fado por cada nudo en la garganta, quedamos muy hartos hasta que el adolescente pregunta ¿Estará prohibido cambiarnos de piel? En el norte de Portugal le llaman yodo, nadie sabe bien lo que es, Nuestra Señora del Yodo por favor dame un pez y algo de sal, España reposó su cruz y dicen que los bailes populares son cosas que pasman, pero los españoles no se pasman, sueltan el cuerpo al aire y con los pies dan en la tierra y levantan los mentones, que es así como se vive, me declaro temeroso de dios (¡ya miento!) y aún más de la tristeza, la nostalgia, el miedo, los tres nombres del tedio, pero ahora estamos en España y quiero un atardecer bárbaro y feliz.

7.

El siete es el número de la perfección, no creas en eso. Mis abuelos se enfadaron con España cuando el calentador del agua falló, Made in Spain, no me bañé durante dos días, me sentí sucio y entregué las alas al perro más astuto y puerco de la calle, después el perro me llevó por la correa a los callejones más escondidos del pueblo, pensaba en el olor del aguardiente, de los dos que se comían entre la sombra del maíz, dejamos libre el perímetro de la noche y subimos al granero donde las jeringas ardían, descendimos por la mañana con los dientes rasgados cuando el estómago dolía. Quédate conmigo aunque yo te diga qué perro fue mi primer amor.

martes, 17 de enero de 2012

Días escondido, Nápoles y otra vez ese texto de Ángel González


Llevo días escondido, también con los hábitos cambiados, mantengo, sin embargo, el consuelo diario de un cafetito portugués a primera hora de la mañana. Es en un café pequeño con muro de cristal (a la plaza indignada de Bruselas), ahí, el regusto en las encías, en la televisión, de espaldas, edição da manhã, tres atentados en Nápoles. Acto reflejo, las manos en los bolsillos, del pantalón, del pecho, uno por uno de la chaqueta colgada en el respaldo, no hay víctimas, la mochila, una cremallera, otra, maldita memoria, cristales rotos,

-No seas neurótico

la plaza, el libro, por la página señalada, las palabras de Ángel González:

“La escritura es una especie de enfermedad contagiosa que los libros transmiten a quienes los frecuentan en exceso. Todos los lectores contumaces están expuestos a ese contagio, y en distinta medida todos lo sufren, aunque algunos lo desconozcan y otros, por prudencia o timidez, lo oculten. El lector químicamente puro no existe; en su interior hay siempre un escritor latente o agazapado que a veces despierta de su letargo y se abalanza sobre parientes y amigos creando en la mayoría de los casos (hay admirables excepciones) situaciones de pánico o de desolación. Cuanto más temprano sea el contacto con los libros, más graves y duraderas serán las consecuencias de ese virus incubado en el texto que son, unas veces por fortuna y otras por desgracia, casi siempre incurables. Exagero poco; creo que Kafka hablaba de la literatura como lepra". 

(de Palabra sobre palabra, Seix Barral, Barcelona)